11/01/2013

A história do Beto!

Muitos que me conhecem, não sabem o porque desse meu amor imenso, por um "cachorro".
Eis a oportunidade de saber a real história deste ser que entrou em minha vida no ano de 2001.


Morando em Caxias, e já alguns meses tendo uma vida de casada, resolvemos que queríamos um filho.
Depois de inúmeras tentativas sem sucesso, finalmente havia engravidado!
Mas com tanta turbulência em minha vida ( como ser procurada pela polícia, por ter fugido de casa) , dores infernais de estômago (que depois de um tempo, descobri ser úlcera nervosa), casa nova, paranoias, me vi em uma situação muito devastadora. Sofri um aborto espontâneo, em casa, sozinha.
Já havia passado por esta situação, mas em outras circunstâncias (outro dia eu conto). Esta situação em particular, estava sendo a pior da minha vida. Pois desejei muito, queria uma família, queria amar e ser amada.
Bom, depois do acontecido, e horas dormindo, exausta de tanta dor e choro compulsivo, meu marido chega, e depois de saber do ocorrido, insiste em me levar ao hospital. Eu, medrosa, e envergonhada, não quis, apenas pedi que me abraçasse e ficasse comigo.
No outro dia, ele insiste, que devo ir ao médico, e eu , teimosa, não dei ouvidos. Então ele pergunta o que eu mais desejava naquele momento. Querendo que ele me deixasse em paz, fiz um pedido "impossível".
Quero um São Bernardo!
Como se fosse a coisa mais simples do mundo, ele levantou, pegou a minha mão e disse: Vem! Não vou te dar nada, mas vou te mostrar algo que vai te animar!
Eu fui, ele me levou na casa de uma senhora que ele havia feito um serviço. Eu fiquei no carro, enquanto ele batia palmas, chamando por ela. Quando a sua porta se abriu, vi um enorme cão, lindo, forte, e cheio de vida, saindo de dentro da casa.
Enquanto meu marido e a senhora conversavam no portão, o cão veio até mim, na grade, como se já me conhecesse, e ficou com o focinho entre os ferros, querendo chegar mais perto.
Então a senhora, o chamou e abriu o portão, quando de repente ele veio desesperado em minha direção, pulando na janela do carro e fazendo festa pra mim, como quem diz: Te encontrei!
Eu senti o mesmo... Nunca imaginei olhar nos olhos de um cachorro e descobrir ali meu anjo da guarda!
Meu marido contou minha breve história pra senhora (Nice), e ela sem pestanejar, mesmo dizendo que o cão (Betoven,Beto) era como um filho, ofereceu para que nós o levássemos pra passear. Eu já chorando e ele com a cabeça em meu colo, olhando  pra mim com seus olhos cor de mel, amei a ideia.
Mesmo sabendo que seria apenas um passeio (que foi ir de Caxias a Porto Alegre, no carro da empresa, sem a menor consciência do que estávamos fazendo), sabia que logo teria que entregá-lo a sua dona.
E quando isso aconteceu, Beto não quis me deixar, deixando sua dona boquiaberta com a situação. Então ela o deixou vir conosco por mais um dia.
E depois disso, toda vez que o levamos, ele chorava, batia no portão, uivava, deixando a Nice sem palavras, e sempre nos deixando levá-lo por mais e mais dias. Até que finalmente ficamos com ele definitivamente, enquanto ele ia na Nice, apenas para visitar.
Por ele, procuramos uma casa maior e com pátio, para ter conforto que um cão da raça dele necessita.
Ele sempre me defendia, das brincadeiras de empurra-empurra com meu marido, sempre estava ao meu lado quando chorava, uivava para me alegrar, pedia colo como um bebezão.
Muitos passeios, muitas indiadas..
Tempos depois, passamos por uma fase muito difícil. A falta de grana era tanta, que com as poucas moedas,    tínhamos que dividir uns poucos pães.
Almoço e janta, por muitos dias, foi arroz com cebola.. Dividido entre eu meu marido, o Beto e os outros cães que tínhamos na época...
Tivemos que ir embora, sem rumo voltamos para nossa cidade natal.. Passamos por três moradias, onde nenhuma aceitou muito bem o Beto. E durante um longo período, foi difícil manter, um cão, que sempre teve tudo do bom e do melhor..
Passamos por trancos e barrancos, vários acontecimentos, até que um dia vimos que não tinha mais o que fazer.. Tínhamos que deixá-lo com quem fosse cuidar muito bem dele.. Não queríamos ficar muito longe, e por imaturidade também, nem pensamos em levá-lo para a antiga dona, a Nice. Não foi por mal, mas pelo menos conseguimos um dono maravilhoso pra ele, dando um belo pátio, outros animais e bastante comida.
Com o coração em frangalhos o deixamos ... Apesar dos pesares, sinto que fiz o melhor, pelo menos se tratando de qualidade de vida.. O que eu não sabia é que a saudade seria mais cruel do que o esperado...
Depois disso, apenas com notícias por telefone, passaram-se uns dois anos, e eu finalmente consegui engravidar de novo, porém tive mais um aborto, que desta vez me levou ao hospital, pois todos sabiam e não tinha como escapar. Foi então que descobri o porque dos abortos: meu sangue negativo criava anticorpos que expulsavam o feto do meu ventre... E nesse dia, me dei conta que não tinha meu grandão pra me consolar.. (choro). Foi um sentimento de vazio, por não estar com meu anjo fiel ao lado.. E isso doeu demais!
Mas como fui ao hospital, e fizeram todo o procedimento pós aborto, me deram uma injeção, para que eu seguisse com uma próxima gravidez sem riscos.
E assim se fez.. Engravidei uns seis meses depois, e quando já estava com um barrigão, me veio a maior saudade de todos os tempos do Beto...
Incomodei meu marido horrores, para que fossemos em busca dele.. Marcamos com o cara e lá fomos nós..
Impressionante como ele nos reconheceu no mesmo instante, eu ainda estava no carro e ele veio correndo em minha direção.. Quando saí, ele notou minha barriga enorme, e com certeza sabia de que se tratava, ao contrário de inúmeras vezes que ele pulou em mim, ele se conteve, e apenas abanou o rabo e lambeu meu rosto, mas com a mesma empolgação de sempre!
Ele estava lindo, gordo e saudável! Fiquei muito feliz vê-lo daquele jeito, tão a vontade com o ambiente e principalmente, feliz!
Depois desse encontro nunca mais o vi.. E o sentimento que fica é o da saudade...
Tudo que passamos, todo o amor, carinho e dedicação que este ser prestou a mim, principalmente, não tem palavras que o descrevam!
Se eu contasse cada detalhe das aventuras e momentos vivido com ele, daria um livro, com certeza.
Mas pra quem não sabe e até debocha deste amor que tenho por ele, quem sabe entenda um pouco.
Sinto muita falta do Beto, e inúmeras vezes chorei por ele.. E não tenho vergonha, porque tenho certeza, que ele foi um dos poucos amores verdadeiros que tive em minha vida, igualando apenas ao amor do meu filho. Sim! Porque amei ele tanto como amo meu filho hoje!
E como toda mãe que um dia já deu seu filho, eu sofro, todos os dias.. Para muitos, ele era apenas um cachorro, mas para mim, que senti a intenção dele em me cuidar e consolar nas horas de tristeza e dor, com o olhar de quem compreende, fez  dele um anjo real em minha vida!
Jamais o esquecerei! E nenhum outro cão tomará o seu lugar!

Paulla Furtado


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